quinta-feira, 28 de abril de 2011

Quando a filosofia encontra a Rússia

Ao olharmos para nossa atual sociedade, no âmbito nacional, percebemos uma série de divisões e, ao mesmo tempo, uma série de agrupamentos nos mais diversos campos de ação, com no caso da rendam opinião, área de atuação, entre outros. No âmbito circuito internacional, tal cenário não é tão diferente, e sim mais amplo.

Se olharmos além, como para as sociedades de nossos ancestrais, não encontraremos exatamente o mesmo tipo de segregação e agrupamentos; porém, eles existirão de acordo com o contexto e as temporalidades do local em decorrência da época em que está inserido.
Na análise a seguir, tentaremos observar exatamente esse aspecto de agrupamentos (trabalhadores e revolucionários) e o que eles são capazes de gerar e, ainda mais, como eles podem, sendo por vezes tão amplos, ser destruídos ou minimizados, como está registrado nas linhas da história pela Revolução Russa.
Em meados do século XX, pode-se dizer que a Rússia era um país essencialmente agrário, tendo em vista que cerca de 80% de todas as atividades dos trabalhadores espalhados pelo país concentravam-se no circuito agrário, enquanto somente 20% pertenciam à classe trabalhadora industrial; as indústrias russas eram minimamente evoluídas e instaladas pelo país, e ambas as classes exerciam suas funções em uma situação que, se analisada atualmente, feriria muitos dos direitos humanos e do trabalhadores que conhecemos.
Tendo em vista o cenário político do país na época, não podemos esquecer do governante, o Qzar Nicolau II; em uma rápida explicação maquiavélica, seu governo era despótico, na qual para a manutenção da ordem, principalmente nos anos pré-revolução, a violência passou a ser uma de suas armas principais.

Ainda segundo Maquiavel, para um governante, o melhor seria ser bom e praticar uma política menos violenta o possível para assim ser amado. Porém, se isso não fosse possível, o melhor seria usar a violência e sua força de Príncipe para com seus súditos, visando a perpetuação do poder. Uma situação ocorreu quase quatrocentos anos após tais palavras maquiavélicas, e ficou marcada por um detalhe. No episódio conhecido por Domingo Sangrento, que ocorreu em São Petersburgo na Rússia em vinte e dois de janeiro de 1905, trabalhadores e suas famílias foram, de maneira pacífica, fazer um protesto em frente ao palácio de inverno (residência dos monarcas russos), visando abrir os olhos do Qzar para a situação do povo a respeito das penúrias passadas no trabalho e na vida, já que o país se encontrava na miséria desde 1861, onde foi implementada a emancipação dos servos, onde esses podiam comprar as terras em que trabalhavam, o que não era possível já que eram miseráveis; logo, a emancipação feita para atender a necessidade do país de realizar uma rápida transição para o capitalismo apenas piorou a situação. Além disso, outros fatos pioravam a crise da Rússia e aumentavam a insatisfação popular, como a construção da Ferrovia Transiberiana, que trouxe o capitalismo e investimentos industriais à Moscou e São Petersburgo, fazendo com que o povo camponês miserável viesse trabalhar nas indústrias, onde a vida era tão precária quanto no campo. No entanto, o acontecimento que foi a causa imediata da Revolução em 1905 foi a guerra russo-japonesa (1904- 1905), onde a derrota do país e as milhares de vidas perdidas esgotaram a tolerância do povo para com o Qzar.

Como resposta ao ato, por uma ordem direta do Qzar, a guarda nacional, posicionada nos arredores do palácio, atacou a multidão causando inúmeras mortes e incendiando definitivamente o coração dos revolucionários que, a partir desse episódio, começaram a empenhar-se na revolução de maneira mais concreta e organizada. Nesse ponto toda a revolução ocorre; há a tomada do poder, o choque entre Mencheviques e Bolcheviques; todo o processo revolucionário ocorreu, process que não será tratado nesse texto. Pulemos agora aproximadamente vinte anos até Vladimir Lenin, que liderou a já criada União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), e agora chega a hora de Josef Stalin liderar a república soviética.

Nascido na Geórgia em 1878, desde jovem, Stalin sentiu-se atraído para aspectos revolucionários, tanto que chegou a trabalhar muito próximo a Lenin. No governo Stalinista, além da onda de melhorias e industrialização pela qual a Rússia passou na época, uma das principais características de tal governo é o próprio termo "Stalinismo", uma vez que o socialismo tomou uma forma mais autoritária e militar nas mãos de Stalin, e foi exatamente tal ocorrência que desestabilizou o curso russo no processo comunista e marcou para sempre a história do país como uma época nebulosa e de luto.

Como todo governo autoritário, o de Stalin não era diferente: tinha como característica toda uma política de propaganda, manutenção de uma suposta ideologia, o sumiço com toda a oposição, milhares de deportações, entre outros.

Segundo Hobbes, devido a alta periculosidade da natureza humana, os homens devem fazer um pacto, dando o direito e o poder à uma pessoa em especial. Tal pessoa deverá cumprir o pacto, visando sempre manter a vida dos homens que assinaram o pacto, uma vez que, devido a belicosidade natural aos homens, uma vida em sociedade não seria possível sem um ser que a gerisse e garantisse. A esse ser Hobbes nomeia "O Leviatã", fazendo alusão a um suposto monstro marinho mitológico de poder tamanho que, na antiguidade, à todos assustava.

Uma proeza foi conquistada por Stalin. Ele conseguiu se inserir tanto na visão Hobbesiana do Leviatã, na medida em que era ele quem tinha a responsabilidade sobre o povo e de guiar o Estado, quanto na visão mitológica do Leviatã, ao passo que se transformou em monstro temido por todos. Maquiavel provavelmente diria que tais ações eram somente os meios encontrados por Stalin para manter-se no poder. Porém nunca saberemos, afinal Stalin nunca foi de "se passar" por Príncipe. Diversos estudos e análises foram feitas tentando descobrir a quantidade de vítimas do governo autoritário Stalinista. Em média, diz-se que houve cerca de oitocentas mil execuções, porém o escritor russo Vadim Erlikman defende a idéia de que cerca de um milhão e meio de execuções ocorreram.
Inúmeras outras análises poderiam ser feitas, porém, por enquanto, as feitas acima bastam. Atualmente, devido a crescente população mundial, fica mais trabalhoso uma eficiente organização estatal. Durkheim afirma que é exatamente nesse aspecto que entra a burocracia, na medida em que ela possibilita uma melhor gestão estatal. Porém, o que ocorre quando um maquiavélico Leviatã chega ao poder?


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